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O amor já não é possível para a maior parte das pessoas
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Amar uma mulher 40 anos sem nunca a ter? Foi o que aconteceu ao russo Ivan Turgueniev. O australiano Robert Dessaix pegou nesse amor de há século e meio para viajar com ele e falar de tudo o que lhe interessa. Dos triãngulos amorosos à Rússia de Putin, aliás, O Grande Inquisidor.
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(...)
Por causa do vazio?
Há um vazio e é difícil viver. A pergunta é recorrente: porquê não me matar? Porque, às vezes, a vida é dolorosa. A geração dos meus pais tinha algum tipo de fé. Não era que acreditassem, mas tinham fé. Em inglês é diferente. Para acreditar ["to believe"] é preciso acreditar que alguma coisa é verdade. Creio que os meus pais não acreditavam que Jesus Cristo fosse o Salvador deles, mas tinham fé que de algum modo existe uma presença divina que tomaria conta deles. Mas para nós é difícil. É possível se vivermos no Texas, talvez, mas não se vivermos na Austrália, até em Portugal...
Era uma "ménage à trois? [Turgueniev era amigo do marido de Pauline, Louis]
Não, não há palavras para o que era. Era um triângulo. E eu gosto de triângulos, acho que dão possibilidades, transformam as linhas rectas em espaços.
Ele está no centro do que chama este crepúsculo do amor, quando o amor se torna algo...
...muito difícil. É uma espécie de "énnui" com a vida. A sensação de que a vida é só sofrimento e não tem sentido. De que os seres humanos são estúpidos, cruéis. É o que sinto quando leio os jornais. Nem só George Bush é estúpido, toda a gente é. E há uma espécie de "banalisation" de tudo. E uma vez que a provámos é difícil esquecê-la. Há momentos em que vamos a um concerto maravilhoso, ouvimos uma canção de amor de Cole Porter ou apaixonamo-nos, ou vemos um belo lago ao pôr-do-sol, e esquecemos por cinco minutos.
Mas isso tem a ver com o crepúsculo do amor?
Não é bem a mesma coisa. Se o amor fosse possível claro que poderíamos esquecer este "énnui"...Talvez para mim ainda seja possível, mas para a maior parte das pessoas no Ocidente é impossível. Talvez seja possível na Índia, ou...
Porquê?
Porque não acreditamos na alma.
E por que é que para si ainda é possível?
Porque...como Turgueniev sou uma mistura de romântico e racional. Ainda tenho um lado místico que acredita em presenças reais, e se acreditamos em presenças reais ainda podemos amar. Mas se somos pós-modernistas não há uma presença real. Há apenas uma reacção química. (...) Eu não acredito em presenças reais às três da manhã mas posso acreditar às três da tarde...E amo diferentes pessoas de maneiras diferentes, estou disposto a correr riscos, então, é talvez possível ainda amar.
Turgueniev não era um homem muito sexual.
Ele mesmo o diz. Para ele, como para o "troubador", essa não era a coisa principal, o principal é apaixonar-se.
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Excertos da entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Robert Dessaix
in Ípsilon - 23 março 2007
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Outra entrevista aqui
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28 Março 2007
11 comentários:
a sexualidade pode ser mts vezes um "entrave" ao apaixonamento...
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:))))
o jogo de sedução pode ser mais vibrante do que o fogo da pele...
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sei lá...provvavelmente "ele" tinha razão.
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bom dia....navegando.
beijo.
(piano)
demorei-me nalgumas passagens desta entrevista, no fim-de-semana passado. é bom ver que existem por aqui, como dizer, 'afinidades electivas e afectivas'.
vale a pena pensar que, em pleno mundo da 'velocidade', este é apenas um dos paradigmas possíveis. o 'great scheme of things' é toda uma outra míriade de possibilidades (e de caminhos).
vou reler - e pensar.
um abraço.
Li a entrevista,por acaso. Não sabia dessa parte da biografia do T. deve ser um bom livro (não e´ficção como no "amor em tempos de cólera" em que ele esteve 60 anos à espera).
bj
adorei o blog... muito interessante! :)
Não conheço o Robert Dessaix... quer dizer, agora conheço um bocadinho!! E fiquei curioso... :)
o amor essencialmente narcísico mas depois
a pouca autonomia conseguida
não dá para arriscar
a alma?
o medo, falamos sempre desse medo agonial de nos levarem o pouco que temos de nós
(que sobra de nós?)
encalhamos na sedução
na distância
morremos à míngua de dedos...
(os da alma?)
a.bra.çO
...
"E eu gosto de triângulos, acho que dão possibilidades, transformam as linhas rectas em espaços."
...
mais um brilhante post!
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o Piano e eu à tua espera
a vadiar...
:))
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beijossssssssss
B.
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e esperámos......
pela noite adentro.
não foste.
mas esperámos...
beijoooooooooooo.
a sexualidade pode não ser um entrave ao apaixonamento, isabel, mas depois (dos jogos de sedução, do fogo da pele) pode ser um entrave ao lugar que a alma tem para a paixão.
..a carne é que é etérea (no sentido da natureza do éter, não no sentido poético), não a alma.
para não parecer possuidora de grandes verdades, acrescento: penso eu que...
:)
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gi, por aqui=entrevista, por aqui=blog (ou net)?
eu senti afinidades com a esmagadora maioria do que disse R. Dessaix. se tu, ou vocês, as sentiram também, existe, realmente, uma outra possibilidade de caminhos no "grande esquema das coisas".
que não fique só em letras impressas para que outros as aprendam e, por sua vez, escrevam sobre elas...
como diria o MEC, [acerca de algo muito diferente:)]: eu faço o que posso...
(Afinidades Electivas é um bom livro.)
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donde se pode concluir que a vida inspira a obra, abssinto.
(bom, acho que não era preciso este exemplo...)
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obrigada, hole...:)
gostei de algumas coisas do teu blog, também (menos aquela agulha...aterram-me as agulhas).
gosto que a vossa geração se vá perguntando e interessando...
e gostei disto:"O passado fica escrito... mesmo que o sapato esteja no pé errado; assim ficará escrito."
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falta alma, sim
falta alma, sim
falta alma, sim
falta alma, sim
falta alma, sim
ou falta mostrá-la, un dress
pudor de a mostrar
ou medo de a dar
...
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fiquei muito indecisa entre que fragmentos desta entrevista expôr aqui, bandida. mas, à partida, esse estava escolhido.
......
por acaso, li no teu blog, há dias, a isabel falar de um jantar a que eu iria...e eu sem saber nada, pah...
isso não se faz...:(
estou a brincar, terei todo o gosto em vos conhecer, como já disse. tenho é uma vida onde tudo tem de ser cronometrado, embora, por outro lado, cheia de tempo livre nalguns dias.
(mandem-me um mail, aí para o meu endereço...a gente depois fala,ok?)
e estás ali»»»»»
:)
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pois, isabel, já começei a explicar à bandida...
hajam noites adentro pra vadiar :)
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abraços
deste homem se diga: 'fez o que pôde; fez TUDO o que pôde'. seria tanto.
li a entrevista no suplemento do 'público' (ainda curto o luto pelo final do suplemento 'mil folhas', que lia de fio a pavio, religiosamente..). mas o 'aqui' a que me referia era este teu-nosso blog.
um abraço (& muita afinidade)
gi.
gi,
o ípsilon é um suplemento muito bem conseguido, não achas? os conteúdos são os mesmos do mil folhas e o suporte melhorou.
este teu-nosso blog...ainda estou a digerir estas tuas palavras. e olha que sou de digestões rápidas. só que...
...acho que me engasguei. talvez de comoção. o tal nó.
não esperava por isto.
obrigada.
my pleasure.
eu-nós é que agradecemos.
gosto da palavra 'comoção' -
pouco(a)s a sabem manusear como merece.
quanto ao ípsilon, desculpa não concordar totalmente. o 'mil folhas' era toda uma outra coisa (para quem se perde nas palavras e por entre as palavras; para quem gosto da simetria entre ética e estética; para quem procura a poesia da beleza e a beleza na poesia)..
[mas é só a minha opinião].
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