Tactear o transitório. Ser fulguração. Sentir o esgar da revolta, da ironia, do espanto...
Gosto desta senhora. Pela coragem e altruísmo que sempre a norteou. Pelo talento e bom gosto. Pela nobreza na simplicidade. Por não ceder a golpes. Sobretudo dos homens que amou. Que lhe eram muito inferiores como pessoas, pelas razões opostas às que, a ela, atribuo.
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Oportunamente homenageada também neste país.
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27 Junho 2006
De qualquer maneira, Brideshead Revisited é, de longe, a minha eleita. Gravei-a e raro é o ano em que não a revejo. Está naquela caixinha de coisas de que nunca me canso - muito pouco cheia, por sinal...
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Twin Peaks, (90's)
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26 Junho 2006
Qual a melhor coisa do mundo? Há tantas, respondo, derrotada. Carla Quevedo
Também não faço por menos
(...)
Arrisco: a melhor coisa do mundo é o entusiasmo. Remeto os que consideram a minha escolha frívola para a origem da palavra: entusiasmo significa literalmente «ter Deus em nós».
Pode ser uma idéia megalómana mas, afinal de contas, estamos a falar da melhor coisa do mundo.
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26 Junho 2006
(Do filme Pillow Book, de Peter Greenaway)
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Who are a book's parents?
Does a book need two parents - a mother and a father?
Can a book be born inside another book?
Where is the parent book of books?
How old does a book have to be before it can give birth?
26 Junho 2006
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(...) embora me custe dizê-lo, os homens estão cada vez mais estúpidos. Todos os homens. Os feios e os bonitos. Bem sei que o sexo forte foi sempre fraco em inteligência, mas tanto assim também não. A prova de que as mulheres são mais inteligentes está no desprezo que votam aos desportos em geral, e aos desportos menos pensativos em particular. Qualquer rapariga com dois dedos de cabeça prefere ter um surfista a ter de fazer surf.
No entanto, acho que as raparigas portuguesas exigem de mais dos seus rapazes. Porque é que um surfista há-de ler Proust? Alguém imagina Proust a fazer surf? O surfista é um género e não faz sentido misturar os géneros. Tem de se manter na sua pureza e, se for caso disso, na sua estupidez natural. Se não, qualquer dia temos surfistas barbudos, sentados na praia à espera de ondas, a rever os seus artigos para o “JL” sobre a vocação marítima de Portugal. Para as raparigas afinal, é ou não é bom saber que os surfistas estão lá, intocados na sua pureza, para quando elas os quiserem? Pode muito bem ser que os surfistas sejam as “louras estúpidas”, as "dum blondes" da nossa idade. O melhor é dar graças a Deus e não refilar muito. Há muitos outros géneros por onde escolher. Os surfistas devem ser, para as raparigas inteligentes, como o marisco à beira-mar. Embora se coma geralmente peixe e carne, num dia de Verão sabe bem ir comer marisco a uma esplanada de praia. Os surfistas são os camarões da época. É por isso que um dos pratos mais populares nas praias portuguesas é, precisamente, “Camarões à la prancha”.
Não se devia dizer mal dos surfistas porque os surfistas são um género novo, que não havia na Idade Média, e que se acrescenta com proveito à variedade do género humano. Querer que sejam profundos, literatos, extremamente sensíveis é como lamentar que os Beach Boys não saibam tocar Bach. Mas infelizmente é uma mania das raparigas portuguesas, esta de querer misturar os géneros todos. Vejamos.
As raparigas portuguesas não se contentam com rapazes de um só género. Olham para um surfista, gostam do que vêem, mas depois pensam: “que pena não ter nada naquela cabeça...” E suspiram, como se o mundo fosse injusto. Se o surfista fosse professor catedrático de filosofia já podiam apaixonar-se imediatamente. As raparigas mais literárias pensam ao contrário – olham para o jovem professor que lhes está a dar uma aula fascinante sobre Kant e pensam: “que pena ele ser tão pouco parecido com o Rob Lowe...”.
(...)
É cada vez mais frequente ver raparigas a tratar assim os surfistas namorados: “Então queridinho, - perguntam docemente pousando o livro de Kierkegaard que estão a ler, - hoje havia muitas ondas na praia? Havia? Ai que bom! Que bom para ti!”. E depois viram-se para as amigas e dizem: “coitadinho – é que ele fica tão contente quando eu lhe pergunto...”
Não pode ser.
PAS
(Maria do Rosário Pedreira)
Mas, Sabes?
(Antonieta Preto)
Nas vielas os homens correm para cá, correm para lá,
pisando a sombra das laranjeiras.
Também os meus pensamentos rodopiam
quando não te vejo.
(Mikata - séc VII- Japão )
Quando não te leio e nessa altura julgo ouvir as palavras fugirem para dentro de ti, deixando o ar com um sabor azedo, viro a página.
Quero o amor encostado a mim, entre o meu peito e as minhas mãos, entre as minhas mãos e as tuas. Como um livro.
(Antonieta Preto)
O poema é aqui, quando levanto o olhar do papel
e deixo as minhas mãos tocarem-te
quando sei sem rimas e sem metáforas
que te amo.
(José Luís Peixoto)
E te amarei, mesmo quando já não sejas no meu lugar, porque o teu livro recebeu-me para sempre de páginas abertas e para sempre deu-me páginas inteiras de mundo.
(Antonieta Preto)
Se alguém me perguntar, hei-de dizer que sim, que foi
verdade - que não amei ninguém depois de ti nem
o meu corpo procurou nunca mais outro incêndio
que não fosse a memória de um instante junto
do teu corpo.
(Maria do Rosário Pedreira)
Tu, tu que eras e serás sempre, e és.
(Antonieta Preto)
Tu que adormeces as órbitas,
a forma primaveril e tolerante
do amor, tu que és onde as estrelas
são lentas, as flores acordadas,
o poema em toda a parte e o sangue
e o centro constelar da minha própria casa.
Eu quero uma alma para ti...
uma alma onde possa descansar a minha,
que consinta demorar-me no brilho estranho que só as janelas têm...
(Eduardo White)
Abro o amor de par em par. Hoje posso, hoje quero soletrar o sol e a chuva de nós e dizer o que vejo em mim.
Imaginando, talvez, apenas...
Mas, digo-te: a memória é um brilho nas gotículas das palavras que ainda tenho de ti, mesmo que o tremor tome conta de nós e a caligrafia do vento e das chuvas torrenciais atravesse aquele que foi o nosso repouso onde, sei, expulsarás a noite por inteiro. Gritarás um frio de palavras ou, pior ainda, uma ausência escura, cega, como a escuridão da noite. Conhecerei o medo e a dor do teu escuro, como o medo de uma criança perdida numa casa, só com paredes e telhados de luto.
(Antonieta Preto)
Sei apenas de ti a tua ausência. Sei apenas da noite este vazio.
(Manuel Alberto Valente)
Meu coração morre mais dentro.
Mas quero dizer-te que a noite já é velha para mim, e por isso te falo com a mesma paciência que é esperar o desabrochar de um jardim ou a colheita de um pão.
(Antonieta Preto)
Porque a noite sempre, como o fogo, revela, melhora, pule o tempo...
(Cláudio Rodríguez)
Canto-te noite para que tu definitivamente
existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem antigo fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
de noite
(Ana Hatherly)
Oiço ainda um som que me chama. O teu. Agora sei. Gritos. Bocados de poema em tempestade, arquivados nos teus sentimentos. Agora sei. Gritos de quem se esqueceu de que os anjos existem, de que os sinais andam por dentro dos sonhos e da beleza. Gritos do grito, antigo, sagrado.
(Antonieta Preto)
Sim, eu sei, a beleza não é um fato de cerimónia que se arranca da cruzeta para vestir à noite.
(Alberto Serra)
Mas o nosso amor já se veste de longe. Por isso te digo:
(Antonieta Preto)
Não posso adiar o amor por outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e ande sob montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora imprecisa demore
Não posso adiar para outro século
a minha vida, nem o meu amor
nem o meu grito de libertação,
Não posso adiar o coração.
(António Ramos Rosa)
Não posso ver bocados de amor, infinitos, feitos numa arcada de luz, demorados. Não posso adiar o sonho. Pego nele, acaricio-o e arrumo-o junto à alma - quero protege-lo para que não se acabe. Como os nossos livros. Como o livro que és tu. O nosso sonho tem um sorriso antigo, igual ao da inocência e uma idade igual à minha.
Os nossos corações não morrerão mais dentro porque há escrituras de amor e por isso te peço que lhes abras as palavras e as deites para sempre sobre o teu coração, como se fosse o nosso leito.
(Antonieta Preto)
Nunca te esqueci - é este um amor maior que atravessa a vida
e resiste à cicatriz do tempo.
O que ontem me disseste agora o ouço,
como se nada tivesse interrompido
a magia do instante em que as nossas bocas se aguardavam
na distância de um beijo e o olhar tocava o corpo antes da mão.
(Maria do Rosário Pedreira)
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19 Junho 2006
Ao voltarem cá estão a dar uma segunda oportunidade a este público.
Agora vejam lá. É que isto de deixarem cair uma pessoa tem limites.
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( Como exemplo dum público habituado a outras civilidades - reparem como até o reenviam para o palco - fica aqui este vídeo. e pode ser que, um dia, ainda volte a Vedder. é que além de autor das lyrics do grupo, também compôs várias intervenções em relação a Mr. Bush, ao aborto e etc., para já não falar dum facto incrívelmente cinematográfico que lhe percorreu a infância e adolescência, mais ou menos traduzido na canção Alive )
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Pearl Jam - Even Flow
con recibos y escena del sofá;
yo no quiero que viajes al pasado
y vuelvas del mercado
con ganas de llorar.
Yo no quiero vecínas con pucheros;
yo no quiero sembrar ni compartir;
yo no quiero catorce de febrero
ni cumpleaños feliz.
Yo no quiero cargar con tus maletas;
yo no quiero que elijas mi champú;
yo no quiero mudarme de planeta,
cortarme la coleta,
brindar a tu salud.
Yo no quiero domingos por la tarde;
yo no quiero columpio en el jardin;
lo que yo quiero, corazón cobarde,
es que mueras por mí.
Y morirme contigo si te matas
y matarme contigo si te mueres
porque el amor cuando no muere mata
porque amores que matan nunca mueren.
Yo no quiero juntar para mañana,
no me pidas llegar a fin de mes;
yo no quiero comerme una manzana
dos veces por semana
sin ganas de comer.
Yo no quiero calor de invernadero;
yo no quiero besar tu cicatriz;
yo no quiero París con aguacero
ni Venecia sin tí.
No me esperes a las doce en el juzgado;
no me digas “volvamos a empezar”;
yo no quiero ni libre ni ocupado,
ni carne ni pecado,
ni orgullo ni piedad.
Yo no quiero saber por qué lo hiciste;
yo no quiero contigo ni sin ti;
lo que yo quiero, muchacha de ojos tristes,
es que mueras por mí.
Y morirme contigo si te matas
y matarme contigo si te mueres
porque el amor cuando no muere mata
porque amores que matan nunca mueren.
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Joaquin Sabina ( visitá-lo aqui )
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( Dito por um amigo, numa noite inspirada...como las demás.)
Na festa de anos:
- Vá, Duarte, tens de morder as velas e pedir 3 desejos.
Ao reparar que ele ia começar a dizê-los:
-Não se dizem alto. Têm de ser segredo para se realizarem.
Depois da festa:
-Então, que desejos pediste?
Olhar de surpresa - ele
Olhar de suspense - eu
Olhar para o chão - ele
Olhar de já sei no que isto vai dar - eu
- Não posso dizer. É segredo.
foto pouco conhecida.
era preciso esconder cedências à ternura
em sorrisos desarmantes.
dare
no presente
coisas assim
são intemporais
e despertam
desejos súbitos
torrenciais
de inventar
uma palavra
mais forte
que ícone
e um salto
no peito
e suor
ao acordar
marlon
nem numa crónica
do expresso
te homenageariam
assim
palavra por linha
como se
cada uma delas
fosse
um átomo de ti
a contaminar-me
ponto.
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06 Junho 2006
Um filósofo e um avicultor britânicos também concordam com Brookfield. Para eles, a resposta unânime é de que o ovo veio na frente, informa nesta sexta-feira o jornal The Times.
Em resumo, o argumento é de que o material genético não se transforma durante a vida do animal. Portanto, a primeira ave que no decorrer da evolução se tornou o que hoje chamamos de galinha existiu primeiro como embrião no interior de um ovo.Para Brookfield, a situação é clara. O organismo vivo no interior do ovo tinha o mesmo DNA que o animal no qual ele se transformaria. Assim, "a primeira coisa viva que podemos qualificar sem medo de engano como membro dessa espécie é o primeiro ovo", argumenta.
David Papineau, um especialista em filosofia da ciência do King´s College de Londres, concorda. O primeiro frango saiu de um ovo. É um erro, segundo ele, pensar que o primeiro ovo de galinha foi um mutante produzido por pais de outra espécie."Se dentro do ovo existe um frango, então é um ovo de galinha. Se um canguru pusesse um ovo, e dele saísse um avestruz, o ovo seria de avestruz e não de canguru", disse Papineau.
O jornal cita ainda Charles Bourns, granjeiro e presidente de uma entidade do setor avícola, que quis contribuir para o debate. "Os ovos existiam antes de nascer o primeiro pintinho. Claro que talvez não se parecessem com os de hoje", disse.
Estavam todos algo nervosos, tímidos e muito felizes. Mãos apertadas uma contra a outra, rostos sérios, brilho nos olhos. Como em qualquer outro grande momento da vida deles.
E pensei que a isto se dá o nome de fé nalguma coisa, que a isto se chama alma.
Que nos deve manter por cá. E, sobretudo, a lutar para que isto acabe.
O resto, como diria uma amiga minha e eu subscrevo, é cagativo.
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01 Junho 2006