Tactear o transitório. Ser fulguração. Sentir o esgar da revolta, da ironia, do espanto...


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Ainda adormeço agarrada a ti

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e acordo com os ângulos do tempo marcados na pele


é esta a tua hora de chegar


e o sítio que escolhes para ficar
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29 Abril 2007

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"Juntos tentavam prolongar a ilusão de que o vício de um corpo é incurável. Diz-se que é uma questão de pele. Desculpas. Pele é pele, dedos são dedos, alavancas são alavancas. E por aí fora; é uma questão de fantasia. Uma questão de literatura. Rigorosamente, ela não precisava dele para fornicar. Ninguém precisa de ninguém para o exercício do sexo - do que todos precisamos é do amor dos outros. O amor pequeno, parcelar, da ternura e da vaidade; e o amor grande, que se nos entranha como um orgão imaterial e nos faz respirar por toda a vida."
(...)
«É difícil viver contigo e impossível viver sem ti.» «Tens a certeza? E se estivéssemos só a repetir o que nos ensinaram? A viver o amor de que se fazem os livros. Para um livro ser bom, o amor tem de ser mau. E se pudesse não ser assim?» «Achas que é possível que o amor seja bondoso e bom ao mesmo tempo?» «Quando tu dizes bom, eu penso belo; estou programado assim.» «Mas se gostares de mim o suficiente para imaginar que bom e belo podem ser sinónimos, eu respondo-te que o amor pode acordar feio, desgrenhado, assustador, e continuar a ser belo, apesar dessa tristeza.» «O meu amor por ti, às vezes, não é mais do que uma ruína, uma ruína onde estremeço de frio. Mas prefiro estremecer por causa de ti do que procurar outra paisagem.» «Andas a dormir com alguém?» «Já não, encontro-te sempre, até nos corpos das outras me farto de ti, o meu amor por ti é tão banal e absoluto que está em todos os corpos, entendes?» «Perfeitamente. Como é que vamos resolver isto?» «Porque é que temos de resolver isto? Talvez este amor, esta coisa nossa, seja uma guerra como essas que tu estudas, infinitas, com o sangue e a paz entremeados. E páginas em branco.» «Somos os dois muito maus na questão das páginas em branco. Se reparares bem é isso.» «Talvez eu não goste de reparar bem. Acho até que é por isso que preciso de ti; para me irritar contigo porque reparas sempre em tudo o que me escapa.» «Achas que ainda teremos medo de viver juntos daqui a vinte anos?» «Não sei. Sei que nos arrependeremos se não tentarmos. Mas não consigo perder o medo.» «Não tens de perder o medo. O medo faz parte do que somos os dois.» «Nunca te esqueces de mim quando tens prazer com outras pessoas?» «Não, e aí está uma coisa difícil de te perdoar.»
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29 Abril 2007

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A metafísica do efémero II
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Ties dies

( e dito assim, parece música...)

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29 Abril 2007

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Também me saem coisas queridas na interné
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Eu sabia que não era impunemente que se tinha um blog. Que as forças do mal andavam aí.
Eu devia ter posto a isto um nome tipo "O meu favinho de mel" ou "As ondas do mar são verdes e azuis e as outras, às vezes, também", e ninguém dava por nada. Muito menos uma bandida que não quer saber de mel's nem de frases óbvias.
Por muito menos estão pessoas no corredor da morte - e estou, agora, a referir-me a mim e ao que vou fazer a seguir. Eu sei que não era obrigada, mas que querem? Quando descobrem a terrorista que há em nós já não se pode apagar o rastilho.
Quanto aos blogs que vou nomear, pensem nisto como se estivessem no Big Brother, quando chegar a vossa vez. Inventem um choradinho qualquer (já agora, melhor que o meu), não se esqueçam de dizer que todos (ou quase todos) os blogs que estão nos vossos links mereceriam a distinção mas que só podem nomear cinco de entre aqueles que vos fazem pensar. Muito ou pouco, bem ou mal - são questões que não constam no tópico desta "corrente". Não me perguntem onde vai ela dar, para que se destina ou se vai haver prémio, que não fui informada de nada disso nem tenho tempo agora; o rastilho está quase no fim e qualquer par de olhos negros e pestanudos me serve.


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E os nomeados (exequo com os restantes 298) são:
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Puro instinto - sempre a vadiar acompanhada ao piano por um coração de papel
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Inimaginável - com tanto do que eu também (in)imaginei
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Outro tempo - de quem quer mais tempo para ser
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Abssinto - um género peculiar de autenticidade
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Lonely gigolo - ...das palavras. que se diz exanimatus e em confusão, entre outras coisas. [vês? saem-te coisas queridas na interné, não só testes :)]. um dos novos talentos que gosto de descobrir por aí.
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Agora ide. Ide e espalhai a nova.


Take 2
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Também tu, Maria? És mesmo de Gondomar...olha terroristas pra ti, não é?
Bem, o texto para esta nova nomeação é mais ou menos o mesmo que o do take 1. E os 5 blogs que vou nomear desta vez também estão mesmo aqui na ponta dos dedos, já que me ficaram como lacunas por preencher. Agora já só faltam 293...
Sem mais delongas (e obrigada, Maria), os nomeados são:
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E se pensam que cada um destes blogs precisaria de traço-explicação é porque não os conhecem...
(...e porque acho que me ia repetir.)
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28 Abril 2007 (acrescentado em 7 Maio 2007)

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A notícia incensurável
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O espírito

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As coisas nos lugares certos

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O ar agora a cores

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Gritos de ontem à solta

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Os tons certos numa mão de artista

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Os porta-estandartes

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e tudo porque

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Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

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25 Abril 2007


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A metafísica do efémero


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O negro é uma claridade quase a chegar
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(respira e não antecipes)

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21 Abril 2007

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Eixo de amor epistolar
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"Entre Moscovo, França e Suíça forma-se um triângulo poético-amoroso entre três poetas do século XX: Boris Pasternak, Rainer Maria Rilke e Marina Tsvetaieva". As cartas que trocaram durante seis meses em 1926 (sem nunca se conhecerem), editadas em volume, servem agora a Inês de Medeiros para uma encenação teatral em torno de uma partilha de palavras intensamente lírica e arrebatadora. Medeiros é Tsvetaieva, poetisa russa exilada em França; Claúdio da Silva dá corpo a Rilke, checo radicado na Suíça, tomado pela doença; e Amândio Pinheiro interpreta Pasternak, poeta russo animado pela Revolução, a viver em Moscovo. A encenadora reúne em palco os três corpos que na realidade não se chegaram a encontrar, embora acredite que as suas cartas dêem a conhecer "um desejo de amar capaz de anular as distâncias", um amor que era "também exigente, impulsivo e egoísta". E pergunta: "quem se ama, o poeta ou o homem? Quem ama? Quem é amado?", numa tentativa de retomar, 80 anos depois, a vibração daquele fugaz eixo poético que atravessou a Europa.

No CCB, 12 a 15 de Abril - in Agenda LX Abril
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“Eu lia a tua carta a bordo do oceano, e o oceano lia-a comigo” (Tsvétaieva)

“Tu és o meu único céu legítimo e a minha mulher” (Pasternak)

“Como é que nos tocamos? Por golpes de asa” (Rilke)

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Robert Dessaix diz-nos que os triângulos transformam as linhas rectas em espaços.
E diz-nos a Física que a luz se propaga no ar e que tem três grandezas básicas: o brilho (ou amplitude), cor (ou frequência), e polarização (ou ângulo de vibração). Devido à dualidade onda-partícula, a luz exibe simultaneamente propriedades quer de ondas quer de partículas. E que propagando-se em meio homogéneo, a luz percorre sempre trajectórias rectilíneas; somente em meios não-homogéneos é que a luz pode descrever "curva".

Precisamente.

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15 Abril 2007

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Pure blood or a way to be swan


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Perguntei-te: o que é isso do amor, e tu meteste-me
uma mão entre as pernas e perguntaste: sentes?
E eu corei e disse que ali não, que estávamos no meio do café
e removi a tua mão quente de entre as pernas que apertei
com força - com vergonha. Rias-te e dizias enfim
que o amor era quando eu tinha sangue ali, quando
eu tinha sangue no dentro de mim mas que não
me pertencia. Eu pensei que não queria uma resposta
metafórica, pensei alto sem que ouvisses enquanto
levavas à boca a chávena de design moderno cheia
de chá até quase entornar. Os teus lábios aquecendo
do chá que ferve mostram também um sangue, penso,
e inclino-me sem metáforas para tocar com os meus dedos
a tua boca. Perguntei-te o que é isso do amor e tu disseste:
é cisnes, e fechaste em torno de mim as pernas e os lábios
e amámo-nos, e aquecemos o mundo todo,
tecido orgulhoso de líquidos. Depois, no fim, vestimo-nos e
olhámos o amor a ir-se embora nos dígitos encarnados
do relógio de cabeceira.
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12 Abril 2007

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Os maiores portugueses de sempre.
Vá lá, desde 1139 [ou 1143, é controverso (acho eu)]
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O cartaz do Partido Nacional Renovador (PNR), colocado na Praça do Marquês de Pombal, apelando ao fim da entrada de imigrantes em Portugal, ganhou na passada quarta-feira uma companhia: um outdoor da autoria dos Gato Fedorento.
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José Pinto Coelho, fundador e presidente do partido nacionalista, tem agora a companhia de Ricardo Araújo Pereira, Tiago Dores, Miguel Góis e José Diogo Quintela. Os quatro humoristas decidiram parodiar o cartaz do PNR.
Com as mesmas dimensões do vizinho, o outdoor dos Gato Fedorento mostra os rostos dos quatro humoristas, todos com bigode e pêra, numa clara imitação de José Pinto Coelho, além de algumas frases em oposição à mensagem inscrita no cartaz do PNR.
«Mais Imigração. A melhor maneira de chatear os estrangeiros é obrigá-los a viver em Portugal. Com os portugueses não vamos lá. Nacionalismo é parvoíce», é a resposta dos Gato Fedorento à mensagem xenófoba do PNR, na qual pode ler-se «Portugal aos portugueses. Basta de imigração, nacionalismo é solução».
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À imagem do avião a afastar-se, com a mensagem «Façam uma boa viagem», a resposta dos «gatos» é o mesmo avião a aterrar e a expressão «Bem-vindos!».
O cartaz dos Gato Fedorento foi custeado pelos próprios. «É uma piada um bocadinho mais cara», disse ao Portugal Diário Ricardo Araújo Pereira.
«Assim que vimos que era possível veicular mensagens grotescas no Marquês de Pombal, e dado que também temos duas ou três mensagens grotescas, não quisemos ficar atrás», disse o «gato».
Quantos às mensagens no cartaz dos Gato Fedorento, o humorista diz que acredita em tudo o que está escrito: «Sem dúvida, a melhor forma de chatear os estrangeiros é obrigá-los a viver em Portugal. Eu nunca tive problemas com estrangeiros, mas com portugueses tenho todos os dias. É no trânsito, é na fila do supermercado...».
«E são muitos anos de história que provam: Com os portugueses, não vamos lá!»
Segundo o humorista, «não foi difícil ter autorização» para colocar o cartaz no Marquês de Pombal, «até porque não pedimos».
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in Portugal Diário
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Actualização:
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A Câmara de Lisboa vai mandar retirar um cartaz do grupo humorístico Gato Fedorento colocado "ilegalmente" no Marquês de Pombal, que satiriza outro cartaz contra a imigração colocado pelo Partido Nacional Renovador (PNR).
Segundo uma nota do gabinete do vereador dos Espaços Públicos, António Proa, o cartaz dos Gato Fedorento, colocado ao lado do do PNR, "não possui licença camarária". Caso a notificação para a retirada do cartaz não seja cumprida, a autarquia vai "proceder à sua remoção coerciva", que terá que ser paga pelo infractor.
A nota da autarquia refere que em relação ao cartaz do PNR, cujas mensagens ficaram praticamente ilegíveis depois do vandalismo, "não tem capacidade legal" para o remover, ressalvando que "a lei confere total liberdade" às forças políticas e que a autarquia não pode agir "mesmo quando a razoabilidade e o bom senso assim o pareçam exigir".
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in Expresso
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Ou seja:
Amanhã (ou já hoje) o PNR tem toda a "legitimidade" para colocar um outdoor mais ou menos assim "Dia 25 de Abril grandioso comício no Marquês de Pombal, onde se agendará a "limpeza" da estrangeirada neste nosso querido Portugal, findo o qual se procederá à distribuição de armas a quem for portador de licença de porte das mesmas". Ou outras palavras que queiram dizer o mesmo.
Podem fazê-lo. A autarquia não tem capacidade legal para se opôr. Mesmo quando a razoabilidade e o bom senso assim o pareçam exigir, a lei confere total liberdade às forças políticas para comunicados públicos. Quem o diz é o sr. (também "engº"?) António Proa. Só não diz o que esperaria os "vândalos" que destruiram uma coisa assim, devidamente legalizada, se fossem apanhados em flagrante delito. Mas a gente sabe.
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Adenda (em 12 Abril): Ainda em relação ao cartaz do PNR, em declarações à TSF, o juiz (jubilado) do Tribunal Constitutional, Guilherme da Fonseca, considera que o cartaz deve ser removido pelo Governo Civil de Lisboa. E que, como a mensagem nele inserida viola a Constituição, se houver alguma queixa, o TC deve proceder à dissolução do Partido.
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05 Abril 2007

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Around and around...



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Dentro deste espaço há alguém que fala. Habitam-no o medo e o fascínio, o pranto e o deslumbramento, o adeus e a solidão. Por estas linhas onde a serenidade e o equilíbrio parecem repousar na noite em fundo, desdobram-se as pontas de um véu lavrado a panteísmo, e na borda das palavras inquietas cresce um quotidiano consentido. Não se pode falar de resignação mas antes de uma certa aceitação dos anos e contingências que eles acarretam. Os prazeres fecundos de um conhecimento onde tropeça o sangue da eterna juventude e se ouve o grito de um outrora-agora.
Corre, no âmago disto tudo, um monólogo onde o outro assiste, impotente, sempre exterior, mesmo quando a partilha o toca. E, apesar disso, o monólogo é quebrado aqui e além e também porque ele responde e comenta, também ele medita em palavras audíveis rompendo o compromisso de uma solidão buscada, a tal ponto que são dele, o outro, as últimas palavras aqui desenhadas a giz.
E há um segredo reduzido a pó. Antecipadamente.

Anotações menos secundárias:

A Primavera irrita-me, com tantas horas de sol que não me servem para nada. Ainda bem que se acabaram estes dias de férias; cansa-me passá-los a perguntar-me, desde há muitos anos, para que é que eu meto férias.
Um filho que não sabe a fórmula de morrer de amor e continuar a viver. E eu que não sei como ensinar que o resultado dela é zero e que isto são contas que só se acertam mais tarde.
Acho que ainda sou uma conversadora nata mas já não suporto ser obrigada a ouvir tudo o que digo.
O mundo em vertiginoso descarrilamento e, nos cafés, lê-se o jornal de perna cruzada.
Ontem sonhei que os meus sonhos tinham falta de mim.
E gostava mais da pessoa que eu era contigo.
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02 Abril 2007

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Citações, #Poesia
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“Acontece na vida de toda a gente. De repente, a porta que se fechou entreabre-se, a grade que se acabou de descer volta a erguer-se, o não definitivo já não é senão um talvez, o mundo transfigura-se, um sangue novo corre-nos nas veias. É a esperança. Pena suspensa. O veredicto de um juiz, de um médico, de um cônsul fica adiado. Uma voz anuncia-nos que nem tudo está perdido. Trémulos, com lágrimas de gratidão nos olhos, passamos para o aposento seguinte, onde nos pedem para esperarmos, antes de nos lançarem no abismo.”
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Nina Berberova, Terra de Ninguém
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02 Abril 2007

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