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e acordo com os ângulos do tempo marcados na pele
é esta a tua hora de chegar
e o sítio que escolhes para ficar
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29 Abril 2007
Tactear o transitório. Ser fulguração. Sentir o esgar da revolta, da ironia, do espanto...
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O espírito
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As coisas nos lugares certos
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O ar agora a cores
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Gritos de ontem à solta
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Os tons certos numa mão de artista
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Os porta-estandartes
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e tudo porque
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Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
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25 Abril 2007
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"Entre Moscovo, França e Suíça forma-se um triângulo poético-amoroso entre três poetas do século XX: Boris Pasternak, Rainer Maria Rilke e Marina Tsvetaieva". As cartas que trocaram durante seis meses em 1926 (sem nunca se conhecerem), editadas em volume, servem agora a Inês de Medeiros para uma encenação teatral em torno de uma partilha de palavras intensamente lírica e arrebatadora. Medeiros é Tsvetaieva, poetisa russa exilada em França; Claúdio da Silva dá corpo a Rilke, checo radicado na Suíça, tomado pela doença; e Amândio Pinheiro interpreta Pasternak, poeta russo animado pela Revolução, a viver em Moscovo. A encenadora reúne em palco os três corpos que na realidade não se chegaram a encontrar, embora acredite que as suas cartas dêem a conhecer "um desejo de amar capaz de anular as distâncias", um amor que era "também exigente, impulsivo e egoísta". E pergunta: "quem se ama, o poeta ou o homem? Quem ama? Quem é amado?", numa tentativa de retomar, 80 anos depois, a vibração daquele fugaz eixo poético que atravessou a Europa.
No CCB, 12 a 15 de Abril - in Agenda LX Abril
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“Eu lia a tua carta a bordo do oceano, e o oceano lia-a comigo” (Tsvétaieva)
“Tu és o meu único céu legítimo e a minha mulher” (Pasternak)
“Como é que nos tocamos? Por golpes de asa” (Rilke)
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Robert Dessaix diz-nos que os triângulos transformam as linhas rectas em espaços.
E diz-nos a Física que a luz se propaga no ar e que tem três grandezas básicas: o brilho (ou amplitude), cor (ou frequência), e polarização (ou ângulo de vibração). Devido à dualidade onda-partícula, a luz exibe simultaneamente propriedades quer de ondas quer de partículas. E que propagando-se em meio homogéneo, a luz percorre sempre trajectórias rectilíneas; somente em meios não-homogéneos é que a luz pode descrever "curva".
Precisamente.
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15 Abril 2007
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Dentro deste espaço há alguém que fala. Habitam-no o medo e o fascínio, o pranto e o deslumbramento, o adeus e a solidão. Por estas linhas onde a serenidade e o equilíbrio parecem repousar na noite em fundo, desdobram-se as pontas de um véu lavrado a panteísmo, e na borda das palavras inquietas cresce um quotidiano consentido. Não se pode falar de resignação mas antes de uma certa aceitação dos anos e contingências que eles acarretam. Os prazeres fecundos de um conhecimento onde tropeça o sangue da eterna juventude e se ouve o grito de um outrora-agora.
Corre, no âmago disto tudo, um monólogo onde o outro assiste, impotente, sempre exterior, mesmo quando a partilha o toca. E, apesar disso, o monólogo é quebrado aqui e além e também porque ele responde e comenta, também ele medita em palavras audíveis rompendo o compromisso de uma solidão buscada, a tal ponto que são dele, o outro, as últimas palavras aqui desenhadas a giz.
E há um segredo reduzido a pó. Antecipadamente.
Anotações menos secundárias:
A Primavera irrita-me, com tantas horas de sol que não me servem para nada. Ainda bem que se acabaram estes dias de férias; cansa-me passá-los a perguntar-me, desde há muitos anos, para que é que eu meto férias.
Um filho que não sabe a fórmula de morrer de amor e continuar a viver. E eu que não sei como ensinar que o resultado dela é zero e que isto são contas que só se acertam mais tarde.
Acho que ainda sou uma conversadora nata mas já não suporto ser obrigada a ouvir tudo o que digo.
O mundo em vertiginoso descarrilamento e, nos cafés, lê-se o jornal de perna cruzada.
Ontem sonhei que os meus sonhos tinham falta de mim.
E gostava mais da pessoa que eu era contigo.
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02 Abril 2007