desenha-me um silêncio...outro
silêncio
o que já temos
quando o abismo serve
para aprender a voar
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30 Março 2007
Tactear o transitório. Ser fulguração. Sentir o esgar da revolta, da ironia, do espanto...
o que já temos
quando o abismo serve
para aprender a voar
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30 Março 2007
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O amor já não é possível para a maior parte das pessoas
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Amar uma mulher 40 anos sem nunca a ter? Foi o que aconteceu ao russo Ivan Turgueniev. O australiano Robert Dessaix pegou nesse amor de há século e meio para viajar com ele e falar de tudo o que lhe interessa. Dos triãngulos amorosos à Rússia de Putin, aliás, O Grande Inquisidor.
E mais ses. E os teus ses. E o tempo que já não me autoriza incertezas
Olha o cigarro que, no cinzeiro, se apaga sem chegar ao fim. Outros ardiam até àquele cheiro de papel queimado. Tinha existido um tempo em que a seduziam as evidências dos mistérios.
Cansada, larga a noite já sem rituais. Mais uns passos até à cama - lenitiva. Onde, pouco a pouco, a certeza de não fazer qualquer sentido um encontro entre eles adormece com ela.
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19 Março 2007
- Let's quê?
- É duma canção do Bowie.
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Há muitos anos que andava a bater-me no peito, sozinha. Dizia-me que tinha ficado ali porque eu podia guardá-la até a entregar sem medo.
E eu, que não tinha medo de nada nem sabia que o havia de ter, deslizava entre outros sons.
Enquanto isso - às vezes em situações muito estranhas como quando uma onda enorme me enrolou e depois duma eternidade feita de murmúrios ascentrais me devolveu à terra - lá vinha ela: «You're too old to lose it, too young to choose it » ou «All the knives seem to lacerate your brain »...
Eu pensava que me agarrava porque eu queria senti-la e, com ela, o fim da minha adolescência. Que o que dizia era apenas mais uma voz dentro da minha cabeça. E, afinal, era para não me esquecer que, um dia, tu ias chegar, que era de ti que ela estava à espera em mim, e que era a ti que eu tinha de a entregar.
(Done)
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10 Março 2007
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Pontos nos ii, sabedoria básica ou não batas mais no ceguinho
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A existência da vontade no fazer mal é matéria muito elástica, eu sei. Mas isso também coloca a existência da vontade no fazer bem no mesmo patamar.
Picture:
Se gostares de mim, se me ajudares e acompanhares no que e quando eu precisar, mas mesmo assim como mais ninguém faz por mim, eu digo-te, depois de me levares a viver mais uma noite: Bye, desculpa lá a pressa. Sim, foi uma noite agradável. Gostei do filme e daquele barzito. A malta vê-se amanhã porque tenho ali uns cortinados novos para pendurar. Talvez ainda dê tempo para me levares às compras. Amanhã ainda terás o braço ao peito? E, a propósito, isso foi do quê? Ias começar a explicar quando tive de atender a chamada da Alice que estava em prantos por causa do Blue. Era um caniche tão querido, coitada. (...) Hã? Outra vez. Sim, sei que não foi por quereres que não reparaste que eu estava a responder aqui a uma SMS. Deixa lá, contas amanhã, se der...
Or, by another hand:
Se me ferires, ok, sem querer, que tu até podes pertencer à categoria dos que acertam sempre na nuvem em vez do prato - e isso só porque o mundo é imperfeito e não deviam estar aquelas nuvens estúpidas, no horizonte, quando estás a praticar desporto - eu fico triste mas tudo cool na mesma, tás a ver? Eu compreendo. Nem me lembro das vezes que isso aconteceu. De todas as vezes em que precisei de ti ou te quis, e tu nem sabias se eu ainda existia. E passou sempre, não? Ora bem, se fosse de propósito não era nada assim, mas como é sem querer...podemos repetir, amanhã, a noite de hoje? Eu compro mais velas e pétalas de rosa e faço o teu cocktail favorito. Que achas? Não podes? Então prometes que me ligas em breve? Não, não me aborreço contigo, claro que não, não tens culpa nenhuma. Tu até gostas de mim...
Se não há um querer adjacente ao acto de fazer mal, também pode não haver querer adjacente ao acto de fazer bem. E serem, ambas as coisas, passíveis do mesmo tratamento por parte do objecto desse querer - ou não - fazer. Até porque o objecto pode bem ter reacções que não são bem por querer. Entregas absolutas ou coisas do só quando e como calha...
(Coloquem os géneros a gosto: m, f ou nem por isso, muito pelo contrário.)
.09 Março 2007
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