Tactear o transitório. Ser fulguração. Sentir o esgar da revolta, da ironia, do espanto...

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bandida said...
desenha-me um silêncio...outro
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silêncio

o que já temos

quando o abismo serve

para aprender a voar

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30 Março 2007

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Robert através de Turgueniev

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O amor já não é possível para a maior parte das pessoas

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Amar uma mulher 40 anos sem nunca a ter? Foi o que aconteceu ao russo Ivan Turgueniev. O australiano Robert Dessaix pegou nesse amor de há século e meio para viajar com ele e falar de tudo o que lhe interessa. Dos triãngulos amorosos à Rússia de Putin, aliás, O Grande Inquisidor.


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(...)
Por causa do vazio?
Há um vazio e é difícil viver. A pergunta é recorrente: porquê não me matar? Porque, às vezes, a vida é dolorosa. A geração dos meus pais tinha algum tipo de fé. Não era que acreditassem, mas tinham fé. Em inglês é diferente. Para acreditar ["to believe"] é preciso acreditar que alguma coisa é verdade. Creio que os meus pais não acreditavam que Jesus Cristo fosse o Salvador deles, mas tinham fé que de algum modo existe uma presença divina que tomaria conta deles. Mas para nós é difícil. É possível se vivermos no Texas, talvez, mas não se vivermos na Austrália, até em Portugal...

Era uma "ménage à trois? [Turgueniev era amigo do marido de Pauline, Louis]
Não, não há palavras para o que era. Era um triângulo. E eu gosto de triângulos, acho que dão possibilidades, transformam as linhas rectas em espaços.

Ele está no centro do que chama este crepúsculo do amor, quando o amor se torna algo...
...muito difícil. É uma espécie de "énnui" com a vida. A sensação de que a vida é só sofrimento e não tem sentido. De que os seres humanos são estúpidos, cruéis. É o que sinto quando leio os jornais. Nem só George Bush é estúpido, toda a gente é. E há uma espécie de "banalisation" de tudo. E uma vez que a provámos é difícil esquecê-la. Há momentos em que vamos a um concerto maravilhoso, ouvimos uma canção de amor de Cole Porter ou apaixonamo-nos, ou vemos um belo lago ao pôr-do-sol, e esquecemos por cinco minutos.

Mas isso tem a ver com o crepúsculo do amor?
Não é bem a mesma coisa. Se o amor fosse possível claro que poderíamos esquecer este "énnui"...Talvez para mim ainda seja possível, mas para a maior parte das pessoas no Ocidente é impossível. Talvez seja possível na Índia, ou...

Porquê?
Porque não acreditamos na alma.

E por que é que para si ainda é possível?
Porque...como Turgueniev sou uma mistura de romântico e racional. Ainda tenho um lado místico que acredita em presenças reais, e se acreditamos em presenças reais ainda podemos amar. Mas se somos pós-modernistas não há uma presença real. Há apenas uma reacção química. (...) Eu não acredito em presenças reais às três da manhã mas posso acreditar às três da tarde...E amo diferentes pessoas de maneiras diferentes, estou disposto a correr riscos, então, é talvez possível ainda amar.

Turgueniev não era um homem muito sexual.
Ele mesmo o diz. Para ele, como para o "troubador", essa não era a coisa principal, o principal é apaixonar-se.
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Excertos da entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Robert Dessaix
in Ípsilon - 23 março 2007
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Outra entrevista aqui
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28 Março 2007

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.....................................- se quiseres, sublinhado, se quiseres...
.....................................- eu quero. e tu queres?
.....................................- eu...tu sabes.
.....................................- não sei se sei. mas reformulo a pergunta: tu queres mesmo...e muito?
.....................................- ...
.....................................- diz.
.....................................- quero.
.....................................- e...?
.....................................- mesmo.
.....................................- e...?
.....................................- muito.

........................._________________________________ isto é um silêncio ________________________
......................_________________________________ que não sei desenhar _______________________
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26 Março 2007

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Or like Narcisus


Gosto da ideia romântica de que as pessoas que não conseguem amar afinal têm é um grande amor infeliz e secreto para expiar. E que em cada corpo novo, cada paixão instantânea, querem desesperadamente lavar - ou renovar? - a lembrança do que não esquecem.
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excerto daqui
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26 Março 2007

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When Nan meet Lavinia
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One can only half-love something
the other half is us

and

even so
so much happens that is
contradictory

that

I don't know that those halves
(either one)
exists.

Let me open you
for my daily dose
My half-tear.

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23 Março 2007


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De tempo e de perda

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Noite desigual. Pensamentos antes improváveis. Uma tempestade a varrer as cores duma vida a que só por medo se agarra.
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Se estivesses aqui e eu deitasse o meu pescoço para trás, nesta cadeira do escritório, fechasse os olhos e suspirasse, tu não terias a certeza se eu estaria cansada, quisesse ir buscar imagens de algo de nós lá muito dentro da memória, ou se um bem estar invulgar teria tomado conta de mim.

Se me levantasse de repente e fosse a andar pelo corredor com passos apressados, não adivinharias porque o estaria a fazer ou sequer se era meu costume fazê-lo. Para a sala baixar o som da música porque estava a mais entre mim e a tua voz ou porque me doía a cabeça? Para a cozinha porque tinha a boca seca? Sede ou nervosismo? E saberias o quão raramente eu bebo água?
Se para a mesma sala te levasse e me sentasse no lado esquerdo do sofá de três lugares – o que fica em frente à televisão – não terias a certeza se o fizera porque era um hábito de sempre, porque queria ver bem a notícia que estava a passar no écran ou porque queria deixar espaço ao meu lado para que te sentasses onde querias sem ser preciso ser explícita e assim impedir-te de te sentares num dos outros sofás só de um lugar, inseguro.
Se eu te tocasse no cabelo como saberias que era uma indicação da memória cativa das palavras trocadas «eu, ontem, não falei em cabelos por acaso» «tu nunca dizes nada por acaso, não sei se já reparaste» ou se era uma mania minha mexer no cabelo das outras pessoas?
Se, finalmente, te abraçasse, te beijasse (até onde fosse longe...) e, pelo meio, te dissesse que já sabia o quanto a tua boca era contornável (e tu murmurasses que sim, provavelmente a parte mais contornável de ti) para, de seguida, te encaminhar para a porta de saída, perto da qual tinhas estado tanto tempo, já exangue, não saberias se o faria por, afinal, não ter sentido aquele fogo, quase cinematograficamente, tão falado entre nós, por não saber que fazer com tão pouco espaço entre os dois, ou simplesmente por querer esperar por ti (e pelo resto que ainda seria nosso) para o dia seguinte, por ter percebido que esperar sempre um pouco mais era o que de melhor tu e a vida m
e podiam dar e o que melhor me sabia. O sempre em lugar do já. Para sempre.

E mais ses. E os teus ses. E o tempo que já não me autoriza incertezas

Olha o cigarro que, no cinzeiro, se apaga sem chegar ao fim. Outros ardiam até àquele cheiro de papel queimado. Tinha existido um tempo em que a seduziam as evidências dos mistérios.
Cansada, larga a noite já sem rituais. Mais uns passos até à cama - lenitiva. Onde, pouco a pouco, a certeza de não fazer qualquer sentido um encontro entre eles adormece com ela.

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19 Março 2007

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Antony & The Johnsons
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If It Be Your Will (Leonard Cohen)

(speechless...)

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15 Março 2007

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Isto assim
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Era assim que se sabia. Não a escrever. Nem a pensar nisso. O círculo estava fechado. Não havia como entrar. O dia seguinte anunciou a passagem. Do que foi para o que se seguiria. Uma linha a tracejado.
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Não se sabe para onde virar os olhos quando só a angústia é pura. A cama às mãos atada. Uma laranja sobre o tabuleiro da cozinha quase desequilibra uma paisagem. Nos quartos interditos as mãos vão encerradas nos bolsos. A beleza é um perigo, algo nefasto que conduz ao delírio . Tudo o que está a mais dói. Sobretudo dói o doer da navalha. Chegar e não encontrar nada. Unicamente as coisas nos lugares exactos. Não há um sopro dentro da casa. Há uma coisa que se perdeu por descuido. Não vale de nada correr para nenhum lado. Entretanto o medo atravessa lentamente a sala. No meio o interior de tudo. À contra luz a pele fica anulada, projecta sombras, no branco das paredes. As paredes suspendem esta casa como a cabeça agarra um corpo. Um truque de mágica.
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Ficar por aqui eternamente mudo, é um destino. O mar bate muito ao longe. Todas as coisas foram feitas para serem desmembradas e depois reconstruídas. Entra aqui o artista com as suas mãos de prata. De natural tudo nos falta. Uma máquina empina-se e larga uivos. O artificial é um logro, um produto imaginativo. Somos feitos de um pó que deixou de ser feito. Entretanto perdeu-se a palavra. Isto assim. Mais vale escapar para o lugar onde não seremos vistos. A traição que nos agarra pelas costas. A alegria breve. O que ficou por dizer. Os dias felizes. Isto assim.
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Pedro Paixão
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15 Março 2007

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Abro-te cuidadosamente todos os dias
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para me dares uma lágrima tua a beber

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12 Março 2007

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Topic: Let's turn on and be
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- Let's quê?
- É duma canção do Bowie.

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Há muitos anos que andava a bater-me no peito, sozinha. Dizia-me que tinha ficado ali porque eu podia guardá-la até a entregar sem medo.
E eu, que não tinha medo de nada nem sabia que o havia de ter, deslizava entre outros sons.
Enquanto isso - às vezes em situações muito estranhas como quando uma onda enorme me enrolou e depois duma eternidade feita de murmúrios ascentrais me devolveu à terra - lá vinha ela: «You're too old to lose it, too young to choose it » ou «All the knives seem to lacerate your brain »...
Eu pensava que me agarrava porque eu queria senti-la e, com ela, o fim da minha adolescência. Que o que dizia era apenas mais uma voz dentro da minha cabeça. E, afinal, era para não me esquecer que, um dia, tu ias chegar, que era de ti que ela estava à espera em mim, e que era a ti que eu tinha de a entregar.

(Done)

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10 Março 2007

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Pontos nos ii, sabedoria básica ou não batas mais no ceguinho

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A existência da vontade no fazer mal é matéria muito elástica, eu sei. Mas isso também coloca a existência da vontade no fazer bem no mesmo patamar.



Picture:


Se gostares de mim, se me ajudares e acompanhares no que e quando eu precisar, mas mesmo assim como mais ninguém faz por mim, eu digo-te, depois de me levares a viver mais uma noite: Bye, desculpa lá a pressa. Sim, foi uma noite agradável. Gostei do filme e daquele barzito. A malta vê-se amanhã porque tenho ali uns cortinados novos para pendurar. Talvez ainda dê tempo para me levares às compras. Amanhã ainda terás o braço ao peito? E, a propósito, isso foi do quê? Ias começar a explicar quando tive de atender a chamada da Alice que estava em prantos por causa do Blue. Era um caniche tão querido, coitada. (...) Hã? Outra vez. Sim, sei que não foi por quereres que não reparaste que eu estava a responder aqui a uma SMS. Deixa lá, contas amanhã, se der...



Or, by another hand:


Se me ferires, ok, sem querer, que tu até podes pertencer à categoria dos que acertam sempre na nuvem em vez do prato - e isso só porque o mundo é imperfeito e não deviam estar aquelas nuvens estúpidas, no horizonte, quando estás a praticar desporto - eu fico triste mas tudo cool na mesma, tás a ver? Eu compreendo. Nem me lembro das vezes que isso aconteceu. De todas as vezes em que precisei de ti ou te quis, e tu nem sabias se eu ainda existia. E passou sempre, não? Ora bem, se fosse de propósito não era nada assim, mas como é sem querer...podemos repetir, amanhã, a noite de hoje? Eu compro mais velas e pétalas de rosa e faço o teu cocktail favorito. Que achas? Não podes? Então prometes que me ligas em breve? Não, não me aborreço contigo, claro que não, não tens culpa nenhuma. Tu até gostas de mim...



Se não há um querer adjacente ao acto de fazer mal, também pode não haver querer adjacente ao acto de fazer bem. E serem, ambas as coisas, passíveis do mesmo tratamento por parte do objecto desse querer - ou não - fazer. Até porque o objecto pode bem ter reacções que não são bem por querer. Entregas absolutas ou coisas do só quando e como calha...

(Coloquem os géneros a gosto: m, f ou nem por isso, muito pelo contrário.)

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09 Março 2007

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Espaço com poetas do lado de lá II
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Testemunho de essências indecentes
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Eu tenho vontades
Tenho um desejo ou dois
Intenções, projetos e insatisfações
Nunca soube o que deveria ser
Na falta de uma definição: sou
Procurei por respostas
As mais importantes foram:
bom dia - boa tarde - chega aí
Recebi ordens: nem todas cumpri
Nenhuma delas me definiu
Joguei muita migalha no chão
Varri sujeira pra trás da porta
Fechei portas de armários bagunçados
Nunca fui consenso
De tudo que pedi, quase nada recebi
E o que me deram foi vital:
Beijos, abraços, carinho e companhia
Não tenho a deus e nem ele a mim
Não vivo no inferno e não sou diabólico
Não fui julgado, não pretendo julgar
Meu juízo, pela média, é insano
Poder eu posso, talvez...
Divertido pensar que sou evoluído
Triste pensar que é mentira
Depois da tristeza? A realidade
Guardo a certeza da mutação
E sua irreversibilidade
Não quero a morte
Muitas batalhas já foram travadas
Já senti o seu cheiro e não gostei
É monótono, monocórdio, definido
A vida é polissêmica, dinâmica
Os cheiros, os gostos e as cores variam
A vida dói imprevisível e indefinidamente
E eu sigo pelas esquinas que passam
Se isso tudo faz sentido ainda estou vivo.
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05 Março 2007

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Espaço com poetas do lado de lá I
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Coffeeshop
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O casal ao lado discute os termos do divórcio.
Dois pares de pernas desencontrados. Ela prossegue
com tom de executiva. Ele se queixa,
manhoso. Diz que a vida assim está:
intransitável. Ela pede que ele assine
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aqui, aqui e aqui.
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Uma neve ligeira paira, hesita sobre a rua, logo
se resolve e polvilha o cinza.
As costuras da calçada vão sumindo.
Coisas etéreas pousando num mar de concreto,
abafando as miudezas da vida.
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Aqui vejo que a cidade na verdade é três:
a primeira, horizontal, das calçadas,
das praças e dos divórcios.
A segunda, vertical, dos arranha-céus
e dos cânions de ar que se alojam entre os prédios.
E a última, horizontal, das coberturas e
terraços, cada um sob sua caixa d’água,
sentinela gorda em tripé com chapéu chinês.
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Eu pairo sobre meu livro entreaberto,
e revoluções me eludem.
Para compreensão geral do mundo, assine
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aqui, aqui e aqui.
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Vitrine
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Você vem à minha casa—
Eu cozinho macarrão—
Você me retorce as vísceras—
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Eu tenho a boca afiada, é
e os olhos moles, sou puro mel
e cal viva. Abre a boca e engole.
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Cheiro a tua frieza pétrea—
Chega mais: você já viu de perto
um coração remendado—
um bule vermelho e roliço
estilhaçado e recomposto?
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Superbonder é demais.
Vá pro inferno.
Eu tenho fome e vou jantar sozinha.
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05 Março 2007

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Final cuts
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Quem eu amei feriu-me sempre da mesma maneira: sem querer.
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01 Março 2007

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