_
É feita de quantos absurdos?
Todos os dias nasce o sol, para que diurnos acordem e nocturnos descansem. Todas as noites há um noctívago fixando o olhar no céu, transformado em estrela: morta, ainda assim acesa, por anos luz.
Quando o céu destapa a boca da noite, escorre o escuro: é hora de dormir; para alguns, porque para outros, é só o começo de alguma coisa sem nome, negra, cheia de relâmpagos. Flashes de um dia turvo, incógnito; entre sonhos nómadas, feios e bonitos, acertos, erros, quase meios, entradas e saídas.
Para quem a noite é só uma criança a mais no berçário sem aurora, a vida é composta de bocejos, grandes clarões, fascínios imperdoáveis, glamour anónimo, inspiração.
Mas as horas contêm grandes pausas, largas, fecundas. Nesses instantes um pouco de tudo acontece: o veneno delicia, a bondade mata, a loucura cura, a água dá sede, eternas paixões arrefecem, óperas são compostas, Diabo e Deus beijam-se, a lua encontra o sol. E outros possíveis impossíveis.
Na hora sem hora em que o tempo não corre no relógio que desperta a dor, a noite pára.
Resta a certeza de que o absurdo chegou.
_
10 Dezembro 2005