Quase
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Um pouco mais de sol - eu era brasa
Um pouco mais de azul - eu era além
Para atingir, faltou-me um golpe de asa
Se ao menos eu permanecesse aquém
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma
E o grande sonho despertado em bruma
O grande sonho - ó dor! - quase vivido
Quase o amor, quase o triunfo e a chama
Quase o princípio e o fim - quase a expansão
Mas na minh'alma tudo se derrama
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim
Asa que se enlaçou mas não voou
Momentos de alma que desbaratei
Templos aonde nunca pus um altar
Rios que perdi sem os levar ao mar
Ânsias que foram mas que não fixei
Se me vagueio, encontro só indícios
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas
E mãos de herói, sem fé, acobardadas
Puseram grades sobre os precipícios
Num ímpeto difuso de quebranto
Tudo encetei e nada possuí
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além
Para atingir faltou-me um golpe de asa
Se ao menos eu permanecesse aquém
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Mário de Sá-Carneiro
Tactear o transitório. Ser fulguração. Sentir o esgar da revolta, da ironia, do espanto...
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Wounds 6
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11 Novembro 2006
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2 comentários:
Mas nem aos fins de semana nos deixas ficar de sentimentos tranquilos, quentinhos e sossegadinhos no nosso canto?
és tão queixinhas, pah...
:)
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