Tactear o transitório. Ser fulguração. Sentir o esgar da revolta, da ironia, do espanto...

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Parabéns
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A um senhor. Sim, tu, Saramago.

Não pelos prémios, não pelos anos. Sim por seres assim. Por saberes explicar daquela maneira de se falar para todos, a diferença entre instruir e educar. De sentir válidas as pequenas batalhas que, sobre isso, já travei nas escolas dos meus filhos. Por me teres feito chorar, ontem, na tua saudade das oliveiras perdidas, que de tantas e tão grandes se perdiam de vista...

"E agora? Para onde vão os lagartos?"...

Este mundo já não é casa para ninguém. Não se respira. Não se contempla de baixo para cima.

Se me conhecesses não ias gostar de mim. Era bem capaz de te dizer que nunca te tinha lido. Que nem tinha o rádio do carro quase no volume máximo e uma lágrima teimosa ao canto do olho quando anunciaram o teu Nobel. Não ias saber que eu tenho este defeito de sobranceria distante - defesa, ataque - frente a quem está acima dos outros, num ou noutro contexto. Ou talvez percebesses que isso é apenas a mão que quero dar a quem está lá em baixo, e não desagrado pela grandeza.

Não importa. Eu não importo. Só se um dia me despir de sentimentos inúteis, desgastantes e imerecidos e souber escrever sobre como era, antes, o sítio onde vivo agora; um enorme monte repleto de árvores e flores com um moinho branco no cume, de velas também brancas sempre a girar colado ao azul claro do céu, onde mães e filhos subiam todos os anos, religiosamente, no dia da espiga para depois desceram de lá com a certeza de que se vivia uma liberdade perfumada. Se souber transmitir aquela sensação, de tantas tonalidades, do vento que me batia na cara quando subia mais e mais alto no baloiço que era de todos.

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16 Novembro 2006

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