Tactear o transitório. Ser fulguração. Sentir o esgar da revolta, da ironia, do espanto...

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Scene
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Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar não sabem,
como não amam se de amor não pensam
os que de amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos,
mas só amamos quando amamos o acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras tudo
o que no sexo é o sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar o amor não amam.
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Jorge de Sena
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21 Outubro 2006

9 comentários:

Citadino Kane said...

Nan,
Continuo soletrando Amor Amor...

Bruno Ministro said...

Vi o link para o meu blog ali; Obrigado.

Letras de Babel said...

olá, Pedro

um poema que não dava para enredo duma escola de samba mas que ficaria tão bem num samba falado do Vinicius, não é?

Letras de Babel said...

Bruno,

é no que dá passar noites insones de links de blog para links de links de blog...
só tenho pena dos que cá não estão. tenho pena de tudo o que vou ficar sem conhecer...

bj

Anonymous said...

Obrigado por me lembrares o Jorge de Sena que tão esquecido andou sempre.
É por estas e por outras que é sempre um prazer passar pelas Letras de Babel.
Boa semana.

Letras de Babel said...

tento lembrar coisas que valham a pena, de vez em quando...até para me desenjoar, e aos outros, de mim...

Anonymous said...

E que nos restará quando já não amamos o amor de amar o amor?

Letras de Babel said...

sede. como quem chega ao fim duma longa corrida...

Letras de Babel said...

dizem os mais velhos, de certos arrepios que nos percorrem completamente, que é a morte que passou por nós...

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